
(O Semeador de Van Gogh)
Recentemente fizemos uma enquete rápida com a seguinte pergunta: Já pensou morar em uma vila com casas desse tipo, uma ecovila?
Oito pessoas responderam, duas (25%) dizendo que era seu sonho; outras 6 pessoas (75%) responderam que teriam que mudar muita coisa em suas vidas; por fim, nenhuma resposta para "isso é utopia" ou "é muito trabalhoso".
Posso contar de nossa própria experiência, uma vez que fizemos o caminho inverso de nossos antepassados, que rumaram do interior para a cidade grande na década de 40 e 50 do século passado e hoje, na década 00 do novo século e milênio fazemos o caminho inverso, saindo da cidade grande para o interior. E fizemos isso buscando qualidade de vida, acreditando que não estamos condenados a uma vida de violência e isso não significa fuga, apenas o exercício de uma opção.
E é preciso dizer: é trabalhoso, dá medo, insegurança, momentos de sofrimento e angústia. Mas por outro lado, não fazer nada, permanecer na inércia, permanecer na cidade grande não nos levaria a um lugar melhor. Em 2001 fiz uma pesquisa e descobri que perto de 700 carros novos chegavam às ruas de São Paulo por dia. Hoje esse número é muito maior, com certeza, pois de lá pra cá triplicamos a produção de automóveis no pais. Relembrando as contas daquela época, 700 automóveis siginificariam uns 3,5 km de carros enfileirados chegando diariamente às ruas de Sampa. E, claro, não precisa ser gênio pra fazer um raciocínio rápido e entender que, em algum lugar de um futuro próximo a cidade vai parar, visto que chegam mais carros que ruas na megalópole. Em outras palavras, uma situação insustentável, pra usar a palavra desse início de século 21.
Vivi boa parte de minha vida, embora nascido no ABC paulista, em cidades pequenas. Mas a família não. E cresceram, como todo ser urbano de grande cidade, acreditando que só existe vida inteligente, cultura, educação, trabalho, renda e prosperidade nesses lugares. Fora de Sampa, Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Ribeirão Preto, Campinas, etc, não existe vida inteligente. Acho que é parecido com a visão que alguns de paises ricos tem do Brasil. Acreditam que abrimos a janela e macacos pulam de galho em galho.
Aqui em casa precisou um revólver na cabeça por duas vezes para que a mãe e irmã se permitissem fazer a transição. Ainda bem que o fizeram de vida pra vida e não de vida pra morte, ou de vida pra cadeira de rodas, ou de vida para um vegetal na cama.
Mas não basta apenas mudar de cidade. O que se faz mais necessário é mudar de valores, conceitos, atitudes, pensamentos. Muito simples: fazer o que sempre fizemos e querer colher frutos diferentes é pura ilusão. Plante tomate e vai colher tomate. Plante feijão e vai colher feijão. Plante desarmonia, egocentrismo, violência (dita ou não dita), competição, fraude e vai colher... felicidade? vida tranquila? respeito? claro que não. Óbvio. Mas não enxergamos isso, não é? Trabalhamos cada vez mais para pagar contas cada vez mais impagáveis, feitas na tentativa de encher um buraco, um vazio interno que só faz crescer. O modelo está equivocado e é essa a mudança maior que temos a enfrentar. E mudar de cidade, de vida, de pensamento é só uma parte do processo.
E no final é tudo uma questão de escolha.
E as escolhas que fazemos são como sementes que plantamos. Ao escolher sair da cidade grande, decidimos plantar flores. E a lei nos ensina: vamos colher flores.